Margaret Spence mostra como transformar a IA em oportunidade de inclusão

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Quais outras perguntas sobre Inteligência Artificial devemos nos fazer além de “será que a IA vai roubar nossos empregos”? Para Margaret Spence , consultora especialista em diversidade e desenvolvimento humano com foco nesta tecnologia, há muitas outras questões tão relevantes quanto:

Quem tem sido deixado de fora, por vieses nos processos ou falta de qualificação, e como garantimos a inclusão? Quem está tomando as decisões relacionadas à IA dentro das organizações? Como as mulheres da sua empresa estão vivendo as promessas e as ameaças da IA? Como o medo da tecnologia está moldando comportamentos e engajamento, e quais conversas sobre isso são deixadas de lado? O que é necessário para que todos enxerguem as possibilidades?

Margaret, jamaicana radicada nos Estados Unidos, esteve no Brasil como destaque da Humanship Conference e também participou de uma das ações de lançamento do Potenc.IA, programa da Prosper Digital Skills em parceria com 50 empresas que capacitará 10 mil mulheres em IA até 2026. O Potenc.IA será lançado oficialmente neste sábado (30/08).

Margaret palestrou no SXSW deste ano e sua fala foi inspiração para o Potenc.IA e para o convite à conferência. Luiz Drouet, cofundador da Humanship, contou que sua sessão em Austin, “The Radical Economics of Upskilling Women for the AI Future”, foi uma das mais marcantes de todo evento. E, como disse a própria Margaret, “ele não só ficou mexido com a sua fala, mas também se mexeu”, transformando inspiração em ação.

Com o tema “Além do Algoritmo: Quem você vê?”, ela provocou os participantes da Humanship Conference a irem além do óbvio: enxergar a IA não apenas como ameaça, mas como possibilidade. Para isso, equidade e democratização do aprendizado, sobretudo entre as mulheres e as novas gerações, são condições essenciais para que a tecnologia seja realmente transformadora. O convite é claro: trocar o medo do futuro pelo protagonismo inclusivo.

E nesse movimento, o RH tem papel decisivo, o de abrir caminhos, desafiar barreiras e transformar a inteligência artificial em aliada estratégica da equidade.

Pouco antes de subir ao palco, conversamos com Margaret. Aqui, os principais trechos:

Humanship – O que os líderes de RH ainda não estão enxergando para além do algoritmo?

Margaret – A primeira coisa, a número um, que eu acho que deixamos de lado, que os líderes de RH não pensam o suficiente é: as pessoas precisam ver o que é possível para elas no trabalho todos os dias.

Com o futuro que a IA está trazendo, precisamos redefinir o que é possível para as pessoas. E precisamos ser a voz na sala que apoia os colaboradores. Temos que ajudar as pessoas a enxergar e imaginar algo diferente.

O mais importante que quero dizer para todos é: desmantelem tudo. Tudo o que achávamos que sabíamos sobre trabalho precisa ser abandonado. Esta é a nossa oportunidade de eliminar o que não funciona. Tudo o que tem sido desigual e injusto, que não tem sido do melhor interesse de todos: fora. E vamos reconstruir algo que seja justo para todos.

H – Aqui no sul Global vivemos desafios diferentes relacionados a essas questões?

M – O Sul Global tem desafios únicos. Primeiro: ainda estamos na categoria de países em desenvolvimento, América Central, Caribe e América do Sul. Ainda somos considerados um grupo de risco, mesmo que juntos tenhamos mais população que o Norte Global. Estamos à mercê do que acontece fora das nossas fronteiras. E estamos à mercê de decisões tomadas por CEOs de grandes corporações nos países do G8, que nos afetam aqui.

Uma das coisas que vejo sobre o Sul Global, e que não pensamos o suficiente, é que estamos sempre competindo uns contra os outros. Competindo neste espaço. Mas a IA está vindo para nós, para todos nós. Então, tem que haver um ponto em que o Sul Global diga: não estamos em competição, estamos aqui para sobreviver juntos.

E, para sobreviver juntos, precisamos ter uma visão unificada do que isso significa. Ainda temos nossa individualidade como países e nações, mas precisamos nos unir para dizer: como vamos definir o nosso próximo futuro, nosso próximo capítulo? Neste momento precisamos estar na linha de frente para definir o que vamos nos tornar a seguir. E a pergunta que eu faria ao Sul Global é: o que queremos daqui para frente?

H – Reskilling, proporcionar mais conhecimento às pessoas e ensiná-las a usar IA é o caminho?

M – Sim. Nós do Sul Global temos que fazer reskilling. Primeiro, precisamos repensar como o trabalho se apresenta. Depois, temos que olhar para reskilling, reengenharia e reestruturação de como o trabalho acontece.

Mas, para isso, precisamos enfrentar de forma fundamental todas as questões que temos e que muitas vezes não queremos encarar. Porque se não resolvermos esses problemas agora, muita gente vai ficar para trás. E se ficarem para trás, isso afeta todo mundo.

Não é metade vai para um lado e a outra metade para o outro, todos temos que avançar juntos. O processo inteiro tem que evoluir junto. Então, precisamos olhar para quem não tem qualificação, quem tem baixa qualificação, quem precisa ser requalificado e ser reorientado dentro da nossa visão.

H – É nisso que o RH deveria estar focado agora?

M – O RH não deve estar focado na tecnologia. O RH deve estar focado em gestão da mudança.

Temos 5 níveis de mudança:

  • Mudança individual,
  • Mudança comportamental,
  • Mudança organizacional,
  • Mudança industrial,
  • Mudança comunitária e contextual.

Precisamos liderar todos esses processos dentro das nossas organizações. O que estamos fazendo, na verdade, é gestão da mudança. Não estamos fazendo IA.

H – Qual pergunta os líderes deveriam levar com eles hoje?

M – O que será necessário para que você enxergue o que é possível para todos na sua organização?

H – Existe uma resposta que você gostaria de ter para o futuro do trabalho?

M – O futuro do trabalho precisa ser definido por nós, pensando na criança que ainda não nasceu. Se nos concentrarmos apenas em nós mesmos, aqui e agora, não tomaremos as decisões certas para garantir um futuro para a próxima geração.

H – Como é o RH do futuro que você sonha?

M – Menos regras e mais estratégia. Temos que deixar o livro de regras para trás. (…) Temos que deixar o “é assim que fazemos” para trás e reconhecer que estamos aqui para fazer estratégia. A parte mais importante é: como nos tornamos mais estratégicos para garantir que a existência humana se conecte com a inteligência artificial?

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